Esta estória foi transcrita da pag. 28 do livro Coisas do Passado, publicado em 1964 pelo pecuarista painelense José Maria de Arruda Filho, quando já vivia na cidade, relembrando sua vida campeira. Zé Maria era um apaixonado pelas coisas do passado, pelas lidas campeiras, pelas coxilhas, pelo campo nativo, pela vida na fazenda. Nele relata suas vivências num passado distante, na Fazenda Boavista. As lidas campeiras, os animais da fazenda, os manejos da época, o cavalo campeiro e o gado crioulo. Dele extraio os relatos dos causos da época, das façanhas dos peões e dos tristes relatos do ocaso de algum fazendeiro.
Mas vamos a transcrição da estória, que está ambientada na década de 40, quando os capôs dos carros eram mais fortes. Eis a narrativa de Zé Maria:
“A propósito, certa ocasião viajando com um conhecido nosso e no carro dele, recém adquirido, lá em certa altura o carro enguiçou. Ele só sabia, parece, pisar nos pedais. Quando viu que o carro não ia mesmo, saltou com um facão grande na mão e disse:
- Esperem aí que eu já dou brio pra ele!
Foi num matinho próximo e voltou com um porrete. O homem era brabo e encheu de porretadas a capota do carro. Quando cansou, atirou o pau fora, entrou no carro, ligou e pisou no acelerador. O carro roncou e continuamos a viagem. Quando íamos saindo, ele virou para nós e disse vitorioso:
- Então, eu não lhes disse?
Contamos este fato a um chofer e ele explicou:
- O carro parou por falta de gasolina em virtude de algum entupimento. Com certeza desentupiu com os choques das pancadas.
Passado algum tempo encontramos o homem na praça e perguntamos:
- Como vai seu carro? Tem dado muito brio pra ele?
- Qual nada! Agora, quem agarrou brio fui eu.
- Na primeira vez que ele parou depois daquela, eu fiz o mesmo, mas sem resultado. O recurso foi o mecânico e quem saiu amassada foi minha carteira.”